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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

No Recife, pacientes com paralisia cerebral são abandonados pela família

No Hospital Otávio de Freitas, que fica no bairro de Tejipió, Zona Sul do Recife, oito pacientes vivem uma situação de abandono por parte de suas famílias, recebendo apenas o carinho dos profissionais que trabalham na unidade de saúde. Eles têm paralisia cerebral, doença que compromete o cérebro e acontece ainda na gravidez, ou durante o parto. Dos oito, três nunca receberam visitas de parentes nos 26 anos de internação. Apenas um recebe a mãe toda semana. Outros dois são visitados em feriados como o Natal e no aniversário.

Somente na emergência, o Otávio de Freitas atende cerca de 8 mil pessoas por mês. No ambulatório, 400 pacientes são atendidos diariamente. Entre chegadas e partidas, os oito pacientes com paralisia cerebral estão lá há tanto tempo, que já não se diz mais que estão internados: moram em um pavilhão reservado para eles.

Por conta da doença, eles são como bebês: não falam, não sabem o nome e ignoram noções básicas de higiene e regras sociais. Mesmo assim, estabeleceram vínculo afetivo com os médicos e enfermeiras com quem convivem diariamente. Para o clínico Ronaldo Brito, esse atendimento atencioso é o que os mantêm vivos, já que pacientes com paralisia cerebral morrem cedo. “Não é comum que o paciente com paralisia cerebral viva tanto. Os nossos pacientes ultrapassam os 50 anos de idade”, comentou Brito.

Para a equipe médica, o carinho e o cuidado já não podem ser chamados de trabalho. Os pacientes são como bebês, que elas aprenderam a amar com o tempo. “Não sei ficar sem eles, já são 26 anos aqui. Minhas filhas morrem de ciúmes deles”, comentou a técnica de enfermagem Rita de Cássia.
Todos eles tomam remédios controlados, e a equipe conta ainda com fisioterapeuta, psicóloga e psiquiatra. O diretor do Otávio de Freitas, Antônio Barreto, fala sobre os papéis que deveriam ser da família e do hospital: “Eles na verdade foram pacientes abandonados pelas famílias. O hospital assumiu essa condição de tratá-los e mantê-los até agora”.

No início, eram dez pacientes – dois faleceram – que chegaram quando ainda eram jovens. Eles eram atendidos na Legião Brasileira de Assistência, que foi fechada. A partir daí, foram levados para o Otávio de Freitas, que contava com 200 leitos para psiquiatria.

Depois de anos, reformas e despedidas, os pacientes que ainda estão no hospital acabam de se tornar cidadãos, com documentos que certificam sua existência e direitos. “Até então eles não tinham nenhuma identificação. Não tinham sequer a possibilidade de, quando falecerem, serem reconhecidos. Seriam como ignorados”, comentou a assistente social Georgina Marinho.

Com a primeira vitória, os assistentes sociais agora tentam, junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o pagamento de benefícios para os pacientes. Por hora, o hospital não recebe mais pessoas com paralisia cerebral. Os que moram no Otávio de Freitas devem ficar na unidade até falecerem, dependendo de ajuda em todos os sentidos e vivendo em um mundo à parte, mas rodeados por uma “família” atenciosa.

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