OUVIDORIA POPULAR

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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Com a seca, alimento para o gado dobra de preço em Pernambuco

Produtores de uma área de Pernambuco devastada pela seca começaram a enfrentar mais um problema. Em poucos meses, o alimento para o pouco gado que resta ficou pelo menos duas vezes mais caro.
Nas estradas da bacia leiteira, no Agreste de Pernambuco, caminhões passam lotados de cana-de-açúcar. Sem pasto e sem nada para colher nas plantações, o alimento para o rebanho chega de longe, a mais de 200 quilômetros de distância. Matar a fome do rebanho está cada vez mais difícil. "Já está chegando no limite. Não está dando mais para comprar cana", lamenta o pecuarista Luiz Antônio Costa.
Neste período de extrema escassez por causa da seca, a cana movimenta um comércio lucrativo, na entrada do município de Venturosa. Desespero para os pequenos pecuaristas e lucro para os atravessadores. Quanto maior é a necessidade, mais caro é o preço do alimento para o gado. Um caminhão carregado de cana, que há três meses custava de R$ 800 a R$ 900, hoje é vendido por até R$ 1,5 mil.
A exploração ainda é maior com o bagaço da cana: R$ 2,2 mil o carregamento. E não adianta tentar um desconto. "Por R$ 2 mil não aceitaram. E antes, com R$ 900 a gente comprava. Cada vez estamos nos endividando mais", afirma o pecuarista Adelson Bezerra de Araújo.
Os atravessadores mais que dobraram os preços e tentam justificar a carestia. "Não é o dobro. É por causa da viagem, tem petróleo, pneu, tem tudo", explica o comerciante de bagaço e cana Luís Sampaio da Silva.
Venturosa é o município que mais produz queijo na bacia leiteira de Pernambuco. São 12 laticínios registrados e pelo menos 50 em pequenos sítios. A produção despencou e o problema começa na entrega da matéria prima: o leite está cada vez mais escasso.
Uma das fábricas de queijo, por exemplo, processava 18 mil litros de leite por dia. Hoje, só está recebendo 7,5 mil litros. Para não demitir os funcionários, o empresário está buscando leite em outros estados. "Estamos buscando em Alagoas, Sergipe, e outras regiões, para poder manter o laticínio", afirma o proprietário, Uziel Valério. De acordo com ele, isso encarece em mais ou menos 30% o produto final.
Para não ficar sem leite, o dono de outro laticínio passou a comprar a cana para os animais dos pequenos fornecedores e vender a preço de custo. "Eu acho que se a gente não estivesse fornecendo, hoje estaria com 20% da produção", calcula Adelmo Leite.
A fábrica conta com 58 fornecedores, mas cerca de 100 pequenos pecuaristas vão buscar a cana moída para dar para o gado.
O sindicato dos produtores de leite do estado de Pernambuco calcula que o rebanho da bacia leiteira já foi reduzido à metade e a produção de leite também despencou: de 2,3 milhões de litros por dia para 900 mil. Os pecuaristas vão levar anos para se recuperar do prejuízo.
"Eu acho que 15 anos é o tempo mínimo para que se recupere uma bacia leiteira do porte dessa como é a de Pernambuco", afirma Luiz Alcântara de França Tenório, do sindicato. "Quando falta mercadoria, o comércio mesmo implica em aumento de preços. Então está ocorrendo intervenção do Governo do Estado, proporcionando que o frete seja pago e o produtor pague somente a matéria-prima que está sendo transportada. Com certeza já é uma grande ajuda para o produtor de leite do Estado", finaliza.

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