OUVIDORIA POPULAR

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terça-feira, 9 de outubro de 2012

No Recife, abstenções, brancos e nulos superam votos do 2º colocado

As eleições municipais do Recife tiveram um número de abstenção de votos de 16,38%, o que significa dizer que 191.565 não compareceram às urnas, enquanto 4,57% dos eleitores votaram em branco e 4,81% anularam o voto. Somando esses votos e a ausência, o total é de 283.279 eleitores, o que supera o número de votos do segundo colocado nas eleições realizadas neste domingo (7), Daniel Coelho (PSDB), que recebeu 245.120.
Em entrevista ao G1, o cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Juliano Domingues, lembra que, apesar de parecer alto, a porcentagem segue a tendência nacional. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de abstenções em todo o país foi de 16,41%, com 7,9% de votos nulos e 3,29% de brancos. “O caso do Recife não é tão discrepante. Cresceu um pouco em relação às últimas eleições, mas segue a tendência nacional”, explica Domingues.
Nas eleições municipais de 2008, segundo o TSE, as abstenções foram de 15%, enquanto brancos foram 4% e nulos, 5%. “Mais do que qualquer movimento político que pode ter acontecido na cidade, acredito que pesa muito mais o desinteresse da população em relação à política e à política eleitoral. O grau de confiança da população em políticos e partidos, em qualquer pesquisa que se faça, é muito baixo. São instituições desacreditadas pela sociedade, o que reflete nas eleições”, pondera o cientista.
Outro ponto que pode ter contribuído para o número crescente de abstenções, acredita Domingues, é a questão da punição para quem não vota ter mais um caráter simbólico que prático. “Embora o voto seja obrigatório, a pessoa que não vota tem apenas que justificar, pagar uma multa de R$ 3,50. Qual o incentivo em participar do processo eleitoral se ele não acredita nessas instituições? Se a sanção não gera maiores impactos na vida dele?”, questiona.
As campanhas através das redes sociais também podem ter influenciado alguns eleitores, em especial os que votaram em branco ou nulo. “Houve uma propagação nas redes sociais para que as pessoas anulem o voto como forma de protesto, mas na verdade a pessoa está abrindo mão de participar do processo de escolha do governo. Não é bem um voto de protesto, você está permitindo aos outros que escolham por você”, analisa Domingues.
Uma forma de protesto, acredita o professor, seria acompanhar e cobrar dos candidatos as promessas feitas na campanha, por exemplo. “Na ciência política, se fala muito sobre isso no ponto de vista teórico, mas se vê pouco na prática, que é o voto retrospectivo, ou seja, o eleitor acompanhar o que é feito pelo político e julgar seu representante, votando ou não nele devido às ações”, explica.
Um dos indícios de que o eleitor não costuma prestar a atenção aos atos durante o mandato é a criação da Lei da Ficha Limpa. “É ótimo que a lei esteja em vigor, mas o surgimento dela é um péssimo sinal. A população não pune o mau gestor, pelo contrário, reelege a ponto de ter que surgir uma lei para proteger a sociedade dela mesma. A memória curta do eleitor é uma das características que aparecem fácil nas pesquisas da área de ciência política”, conta Domingues.

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